Especialistas ensinam a escolher melhor tênis para cada esporte


AMARÍLIS LAGE da Folha de S.Paulo

O corredor norte-americano Michael Johnson tem como símbolo as sapatilhas douradas, feitas especialmente para ele. Ronaldinho Gaúcho também pode se gabar de ter uma chuteira exclusiva, desenvolvida pela Nike. O tenista Gustavo Kuerten não fica atrás: a Olympikus criou um calçado com base nas medidas dos pés dele e nas orientações que o jogador dava sobre seus movimentos na quadra. Essa exclusividade ainda não chegou aos atletas amadores. Mas as indústrias seguem nessa direção, como mostram os inúmeros modelos desenvolvidos para cada modalidade esportiva, tipo de pisada e formato de pé."Os limites econômicos ainda são muito grandes, mas a tendência é que as empresas passem a oferecer cada vez mais tênis que possam ser personalizados", afirma o pesquisador Júlio Serrão, do Laboratório de Biomecânica da Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo.Um dos trabalhos em desenvolvimento no laboratório é a adaptação de uma chuteira recém-lançada pela Adidas, que pode ser montada pelo consumidor --quem se dispuser a pagar R$ 549 pelo calçado pode trocar o tipo de trava, entressola e cabedal. As características do sapato foram elaboradas pelo centro de estudos da empresa na Alemanha. "Agora vamos ver quais as melhores características para os pés dos brasileiros", afirma Serrão.Em outros casos, a personalização não está relacionada à troca de componentes, mas a materiais capazes de se adaptar a diferentes tipos de pé. A Asics, por exemplo, desenvolveu um modelo de tênis de corrida que promete se ajustar até ao inchaço que algumas mulheres têm nos pés durante o período menstrual."A tendência é aprimorar os modelos para as características de cada esporte e grupo de pessoas", afirma Felix Albuquerque Drummond, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.O problema é que essa variedade, destinada a facilitar a vida do atleta, às vezes torna difícil a escolha, gerando dúvidas sobre o melhor sistema de amortecimento ou de ventilação.A resposta para a maioria dessas perguntas varia, mas há algumas dicas que devem ser levadas em consideração nessa busca.Uma delas é relevar o peso da propaganda, inclusive da feita boca a boca. O tênis considerado ótimo por alguém pode gerar problemas em outra pessoa cujo formato do pé leva a atritos com a costura. "Não adianta se forçar a usar um tênis porque ele é bom. O tênis tem que se adequar ao pé", diz Moisés Cohen, chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).O preço também não é fator determinante. "Os tênis mais modernos são baseados em pesquisas sobre calçado inteligente, por isso são mais caros, mas achar que um tênis de R$ 1.200 tem um preço proporcional à proteção que oferece é muito otimismo", diz Serrão.O contador e maratonista Nelson Edgar Leite, 39, experimentou tênis de diversas marcas e preços até descobrir aquele que considera ideal: um modelo artesanal, feito em Paraguaçu (MG), cujo preço varia de R$ 70 a R$ 180. A marca, Sprint, foi criada nos anos 80 por Roberto Corrêa, um ex-maratonista que decidiu fabricar seu próprio tênis após uma competição na qual precisou ficar descalço, devido às dores que o calçado provocava em seus pés."Cheguei a ter uma lesão no tendão-de-aquiles, há três anos, por não encontrar nenhum tênis do jeito que eu precisava", lembra Leite. "Além disso, gastava muito, pois cada um desses tênis custava R$ 400, e, devido ao meu ritmo de treinamento, eu preciso comprar um par novo a cada quatro meses."O prazo de validade dos tênis varia, mas, de acordo com Serrão, a noção de que os tênis de corrida precisam ser trocados em poucos meses não passa de mito. Uma pesquisa realizada na USP com quatro modelos diferentes mostrou que esse tipo de calçado pode ser usado para percorrer até mil quilômetros sem perda de qualidade no sistema de amortecimento.A "economia" tem efeitos bem negativos, porém, quando serve de justificativa para a compra de modelos falsificados. Embora eles sejam idênticos aos originais visualmente, a estrutura é muito diferente. "Descobrimos que os tênis 'piratas' levam a um aumento da sobrecarga e dos riscos de lesão", diz Serrão.


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